Pouco mais de cinco meses após operar o ombro esquerdo, a campeã olímpica Ana Marcela Cunha já tem data para voltar a competir. Será no dia 8 de maio, na etapa do Egito da Copa do Mundo de Águas Abertas. Aos 31 anos, esta foi sua primeira grande cirurgia na carreira. Neste processo de muita disciplina, resiliência e dedicação, contou com o suporte total do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e seus profissionais multidisciplinares.
“Desde o primeiro dia pós-cirurgia sempre me foi passada muita tranquilidade por toda a equipe. O tempo é recorde sim, mas para quem está acostumada a competir todos os meses e tantos treinos que vínhamos fazendo, é um tempo longo, de espera. Para o atleta de alto rendimento, sempre vai gerar um pouco de dúvidas, mas o mais importante de tudo, de todos os retornos que tive, é estar sem dor para voltar a rodar o que estava acostumada, treinar com intensidade e volume. Retornar aos treinos sem adaptações faz a gente ter muita convicção do trabalho nessa reta final para voltar a competir”, afirmou Ana Marcela.
Ao longo da temporada 2022 a nadadora conviveu com muitas dores. Mesmo assim, subiu ao pódio nas 11 provas que disputou. Em algumas ocasiões, não conseguia levantar o braço após nadar. Mesmo com os sinais do corpo, ela controlou carga e intensidade e terminou o ano com o sexto título do Circuito Mundial da modalidade.
Na semana seguinte à conquista já estava na mesa de cirurgia para operar o tendão subescapular rompido e o supra espinhal lesionado. A partir daí, seu treinador Fernando Possenti entrou em cena e liderou uma equipe que montou um meticuloso cronograma com todas as etapas para que sua pupila estivesse pronta no momento ideal.
“O planejamento foi feito à várias mãos, em conjunto. Analisando o calendário 2023, vimos que cabia realizar a cirurgia naquele momento sem prejuízos para a atleta e foi o que aconteceu. O que a gente não esperava era uma recuperação tão boa. E a dela foi melhor do que o esperado em todos os sentidos. A Ana Marcela está zero quilometro do ombro operado e rendendo nos treinos, há pelo menos duas semanas, à frente do que a gente estava esperando. Lógico que isso varia muito de atleta para atleta, da capacidade do atleta de ser disciplinado nesse período, mas também dos profissionais que atuam com ele. De conseguirem entender como o corpo deste atleta funciona para deixar recuperado da melhor maneira possível. E, por isso, ela vai poder voltar a competir agora em maio para retomar o ritmo de prova”, analisou Possenti.
No dia seguinte à cirurgia, realizada pelo Dr. Breno Schor, especialista em ombros, com acompanhamento do supervisor-médico do COB, Dr. Rodrigo Sasson, Ana Marcela já iniciou o tratamento de fisioterapia.
“A recuperação da Ana Marcela foi incrível em todos os critérios que a gente possa avaliar. Na fase mais dolorosa, quando tivemos que imobilizar o ombro, ela se comportou de forma exemplar, respeitou seus limites, se conservou, não atropelou etapas. Assim, conseguimos ganhar o arco de movimento até mais precocemente do que o normal. Depois, trabalhamos na progressão de força, para equilibrar com o outro ombro não operado. Outro fator diferencial é que o treinador estava o tempo todo envolvido, participando de todas as decisões”, detalhou Sasson.
Recuperação teve pausa para casamento
Ao longo de todo o período de recuperação, a atleta contou com o suporte de uma equipe de profissionais do COB escolhida a dedo por Fernando Possenti. O grupo passou a se falar diariamente por mensagens e realizar reuniões semanais para avaliar a evolução da nadadora e definir os próximos passos. O Centro de Treinamento do COB, no Rio de Janeiro, onde Ana já treina há seis anos, foi a base principal da recuperação da atleta.
Além de Possenti e dos médicos, o grupo de trabalho principal contou com os fisioterapeutas Álvaro Margutti e Bruno Cooperman, o massoterapeuta Júlio Bransford e a preparadora física Juliana Melhem, que teve um papel especial durante o processo. O cronograma elaborado por Possenti reservou até um momento para que Ana Marcela e Juliana se casassem. A lua de mel, porém, será só em novembro, ao fim da temporada de competições. A esposa de Ana Marcela também atuou como ouvinte, conselheira e motivadora nos períodos de maior dificuldade da recuperação.
“Estive com a Ana mais vulnerável, com mais dor, menos dor. Acho que esse foi um dos momentos mais difíceis da carreira dela. Ela só tinha dúvidas e eu procurava passar segurança. E hoje ela está numa fase de muita tranquilidade, porque ela sentiu que o trabalho deu certo, foi muito além do esperado. Esse resultado incrível que nós tivemos foi um resultado de muita vontade de todo mundo, incluindo ela. Mas gerou dúvidas, não dá para negar”, revelou Juliana.
Foram 12 semanas desde a cirurgia até que Ana Marcela caísse na piscina novamente para exercícios leves. A previsão para voltar a nadar era de 16 semanas, que foram reduzidas para 14 pela evolução do tratamento.
“Com 17 semanas, inclusive, ela já estava fazendo volumes de treinos até então impensáveis”, relatou Possenti, que vê disciplina extrema da atleta durante todo o processo como um dos fatores determinantes para o êxito na recuperação. “O foco é que ela esteja nadando em alto nível ainda em 2023 para chegar no ano olímpico já dentro do que a performance mundial exige”, completou o treinador.
Agora sem dores, a baiana espera voltar ainda mais forte em busca da única medalha que falta em sua vitoriosa carreira: o ouro nos 10km do Campeonato Mundial. O palco será novamente o Japão, onde Ana Marcela se consagrou em 2021 com o título olímpico. Desta vez, nas águas de Fukuoka. Para chegar lá em ritmo de competição, ela disputará, além da etapa do Egito da Copa do Mundo, a da Itália. Depois, viajará para Turquia para treinamento na altitude. Além das medalhas, Ana tem como principal alvo no ano garantir a classificação para os Jogos Olímpicos Paris 2024.
“Fazer a cirurgia foi muito bom. Eu entendi o quanto isso me ajudaria. Os médicos disseram que pós-cirurgia eu estaria melhor do que estava, e de fato é verdade. Não sinto dor, treino bem e consigo melhorar a minha técnica. Foi um processo longo e não vejo a hora de poder voltar e estar competindo de novo, representando o Brasil e dando o meu melhor lá”, finalizou Ana Marcela, que também quer estar presente nos Jogos Mundiais de Praia, em Bali, na Indonésia, em julho, e nos Jogos Pan-americanos de Santiago, em outubro, ambas missões do Time Brasil.
(Texto: COB. Foto: Marina Ziehe/COB)