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Em Maringá, Gabriel O Pensador leva rima, crítica social e carisma à Virada Cultural 2025; confira entrevista
Por Administrador
Publicado em 16/11/2025 19:55
Notícias de Maringá

Com mais de três décadas de carreira, oito álbuns de estúdio e um ao vivo e um Prêmio Jabuti de melhor livro infantil, o rapper e escritor Gabriel O Pensador se apresentou em Maringá no sábado, 15, no primeiro dia da Virada Cultural 2025, na Vila Olímpica. Suas rimas, feitas de crítica social, humor e poesia, atravessam gerações e convidam o público a refletir sobre o País e sobre si mesmo.

 

Antes do show na Virada Cultural 2025, Gabriel O Pensador, com muito carisma e atenção, recebeu a equipe da Prefeitura de Maringá para uma entrevista em que falou sobre sua trajetória, processo criativo, inspirações e a importância da Virada Cultural e dos festivais que aproximam a população da arte (confira abaixo a entrevista completa). No show, o rapper promoveu um grande encontro de energia, musicalidade e celebração, reunindo cerca de 5 mil pessoas sob a chuva que caía na Cidade Canção.

 

Durante a apresentação, Gabriel elogiou a força da cultura urbana de Maringá e enalteceu iniciativas como o Festival Afro-Brasileiro, que será realizado em Maringá entre terça, 18, e quinta-feira, 20, e vai reunir artistas locais e nacionais em celebração ao Dia da Consciência Negra. “É bonito ver uma cidade que apoia o hip hop e abre espaço pra essa galera mostrar seu talento”, afirmou Gabriel. Para o cantor, ações como essas mantêm viva a memória, a representatividade e a diversidade que fazem da arte um lugar de encontro, afirmação e resistência.

 

Confira a entrevista com Gabriel O Pensador:

 

Prefeitura de Maringá: Na sua opinião, qual a relevância de eventos públicos e gratuitos, como a Virada Cultural, para democratizar o acesso à cultura?

Gabriel o Pensador: Sempre curti evento gratuito, antes mesmo de virar artista. Não é só por não ter que pagar, mas pelo clima democrático que rola: gente de tribos diferentes, idades diferentes, classes diferentes, todo mundo junto pra curtir. No Rio, eu ia muito em shows na praia e sabia que ia encontrar a galera do reggae, do funk, do rap que estava nascendo. Essa mistura é linda. E, como artista, dá um gosto a mais cantar para quem talvez não pudesse ir em um show caro. Tem fã que só consegue ir a um show quando rola Virada Cultural, festa da cidade, feira… então é especial. Acho importante para todo mundo, principalmente para os jovens. E tudo que o poder público puder oferecer nesse sentido faz diferença de verdade, até para tirar a criançada e os jovens do mau caminho, principalmente nas cidades grandes. A gente vê o que acontece no Rio. Então, a cultura salva vidas, o  esporte salva vidas, é importante mesmo.

 

Suas músicas se mantêm atuais e continuam dialogando com novas gerações. Como você percebe o papel do rap na sociedade atual?

Estou sempre pensando no quanto a arte é essencial, mesmo nessa correria toda que faz a gente ler menos e ver tudo rápido demais. O papel da arte é iluminar os nossos pensamentos, as nossas ideias, traduzir as nossas emoções… e é muito reconfortante, até nos momentos mais difíceis da vida. Às vezes a gente se identifica com uma letra, um poema, um personagem de livro, uma fala no teatro ou no cinema, e aquilo te faz refletir sobre ética, sentimento, sobre você mesmo. A arte provoca isso. E falando das novas gerações, quanto mais cedo a galera tiver contato com música, literatura e arte em geral, melhor. Por isso eu sempre agradeço aos professores, eles têm um papel importantíssimo. São eles que abrem essa janela para nós na escola e plantam essa semente que gera muitos produtos positivos para a sociedade inteira, não só individualmente, mas coletivamente.

 

Ao longo da carreira, você transitou entre a música e a literatura - inclusive ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro infantil. Como essas experiências influenciam o artista Gabriel O Pensador?

Eu me dedico muito às coisas que eu gosto, principalmente quando estou aprendendo algo novo. Desde criança eu curtia desenhar, ler quadrinhos, depois livros. Eu era um menino tímido e introspectivo. Comecei a escrever porque os professores incentivavam, e aquilo era minha forma de extravasar. Eu escrevia muita coisa que nem mostrava para ninguém. Quando já tinha uns três álbuns lançados, pensei: ‘cara’, vou dividir esses textos com meus fãs. Aí nasceu meu primeiro livro em 2001. Depois veio o Jabuti, em 2006, com ‘Um Garoto Chamado Roberto’, uma história rimada sobre aceitar as diferenças, que virou peça de teatro e foi trabalhada nas escolas no combate ao bullying. Eu gosto de escrever e ainda tenho vários textos guardados que nunca publiquei, assim como letras que não entram nos álbuns. Faz parte. Escrever me ajuda a me compreender: às vezes vem um sentimento que não é lógico, não é racional, e quando coloco no papel descubro o que é, e me emociona sozinho. Às vezes isso vira música e chega ao público; às vezes fica só comigo, naquele momento mais pessoal.

 

Como nasce uma música do Gabriel o Pensador? Há um processo criativo ou tudo começa de forma espontânea?

Depende muito. Às vezes a música começa pela letra: eu coloco um beat, um instrumental só para animar e depois mudo tudo. Outras vezes começa pelo instrumental que um amigo me manda e aí a letra já encaixa direto. Tem música que nasce no freestyle, só pela rima, sem tema definido, e tem outras que eu vou anotando ideias até o tema amadurecer. E também rolam aquelas que vêm de sonho, que você tenta lembrar e não lembra bem. Acordo com uma frase ou uma melodia na cabeça. A composição tem esse lado meio mágico, meio inexplicável.

 

Que artistas, livros ou vivências têm te inspirado nos últimos anos?

Eu ouço muita coisa que já mexia comigo quando eu era mais novo: reggae, como Bob Marley, Peter Tosh e Raul Seixas, MPB, hip-hop dos anos 90, Luiz Gonzaga, repentistas, samba… É uma mistura grande. E claro, vou pesquisando coisas novas também, mas tenho esse apego às referências antigas. Na literatura, voltei a ler mais nos últimos meses. Eu fui batizado em homenagem ao Gabriel García Márquez por causa de ‘Cem Anos de Solidão’. Minha mãe teve complicações na gravidez, ficou 40 dias internada, sem poder nem levantar da cama, e leu o livro inteiro ali. Meu nome seria Pablo, mas depois dessa leitura virou Gabriel. Eu tinha começado a ler anos atrás e parei no meio; agora reli do zero. Depois fui para Isabel Allende, com a ‘A Casa dos Espíritos', e agora estou lendo ‘O Vento Sabe Meu Nome’. Leitura é um hábito e a gente precisa fazer um esforço. A gente perde horas vendo vídeo e esquece do livro. Mas dá para aproveitar viagem, avião, carro… Como eu fazia na época da faculdade, indo de metrô. Curtia contos, biografias, crônicas do Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo e Marta Medeiros. O Brasil está cheio de autores bons, dos clássicos aos contemporâneos, Ziraldo, Paulo Coelho… E hoje tem tudo na internet, dá para ler de graça. Não tem desculpa.

 

Maringá é conhecida como Cidade Canção e promove festivais que valorizam a diversidade musical, como o Festival Afro-Brasileiro e o Festival Garagem da Juventude, voltado a jovens que produzem música autoral - muitos deles vieram para a Virada te ver. Que conselho você daria para esses jovens artistas que estão começando e buscando seu espaço na cena musical?

Muito bom saber que Maringá tem esse espaço para os jovens, o hip-hop, a cultura afro-brasileira e ainda um festival de música autoral como o Garagem - esse nome é ótimo. Porque as pessoas têm sua criatividade, mas às vezes não sabem para onde levar. Isso motiva quem está naquele começo, sem saber se faz ou não faz… e quando rola um evento assim, dá aquele empurrão: ‘vamos fazer, vamos levar lá’. Minha dica é tentar ser autêntico. Não tentar copiar fórmula, nem soar igual artista X ou Y. O que a gente precisa é de artistas originais e com personalidade, como Cássia Eller, Tim Maia, Cazuza, Ney Matogrosso, Rita Lee… Hoje, se não tomar cuidado, o  mercado impõe certas maneiras de se vestir, de atuar, de compor, de escrever e de fazer as gravações e fica tudo meio parecido. Então a minha única dica para quem está começando é tentar fazer um trabalho bem livre, não censurar a criatividade nesse sentido. É assim que nasce algo verdadeiro. 

(Texto: Comunicação PMM. Foto: Davi Suenaga/PMM) -

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