O mês de setembro é dedicado à celebração das conquistas da comunidade surda, especialmente o dia 26 de setembro, quando é comemorado o Dia Nacional do Surdo. Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), 47 estudantes matriculados em cursos de graduação e pós-graduação declaram ter algum tipo de deficiência auditiva; desses, 18 ingressaram pela política de cotas para pessoas com deficiência (PcD). Os dados são da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAA).
Além da política afirmativa, candidatos podem solicitar atendimento especializado para as provas do Vestibular, como intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e tempo adicional. Para o estudante surdo do 3º ano de Artes Cênicas, Pedro Siena, esses procedimentos foram essenciais para que conseguisse chegar à universidade.
Já na graduação, o estudante recebe atendimento do Programa Multidisciplinar de Pesquisa e Apoio à Pessoa com Deficiência e Necessidades Educativas Especiais (Propae), com monitorias e adaptações das questões de prova, por exemplo, o que torna o estudo mais compreensível. “Nós temos muita dificuldade com a língua portuguesa, então essa adaptação de conteúdo é importante, para podermos entender de forma mais clara”, explicou.
O Propae atende, atualmente, 19 estudantes com deficiência auditiva e conta com 13 intérpretes de Libras que se distribuem entre as atividades necessárias – aulas, eventos, projetos de pesquisa e extensão, avaliações, monitorias e outras atividades extracurriculares. De acordo com o coordenador, Fernando Wolff Mendonça, é um desafio atender toda a demanda de Libras da universidade.
Como explica Mendonça, “a carreira pública do intérprete de Libras ainda não existe na legislação estadual, então todos são temporários e há uma grande rotatividade, o que é complicado para o surdo, porque ele se identifica, o vínculo é muito forte. O intérprete é a voz do surdo”. No âmbito federal, a profissão de tradutor, intérprete e guia-intérprete de Libras foi regulamentada em 2023.
Além disso, algumas atividades exigem muita concentração – como uma manhã de aulas no curso de Física – então é necessário mais de uma pessoa, para que haja revezamento. Para a intérprete de Libras, Eloísa Pedroni Pimentel, atuar na UEM é um privilégio. “Eu estou em uso real, dialógico, da língua, então eu aprendo muito com a comunidade surda, afinal é o jeito mais eficaz de aprender uma língua, estar em contato com os nativos”, afirmou.
Segundo ela, “o mais importante é interpretar o conteúdo de forma digna, então é um desafio muito enriquecedor, pois o intérprete acompanha o estudante em sala de aula, por exemplo, nos ensaios, no caso das Artes Cênicas, então nosso papel é garantir a comunicação, esse direito linguístico do povo surdo”.
Siena não tinha contato com surdos antes de estudar na UEM. Como universitário, encontrou uma comunidade de amigos. “Fiz muitos amigos, as pessoas começaram a ter interesse na Libras, então nós fofocamos, fazemos piadas, almoçamos no RU, fazemos tudo juntos. Com a minha formação, planejo ser ator de novela ou de filmes e também quero dar aulas, então pretendo ir para o mestrado”, afirmou.
Libras na sala de aula
De acordo com o Departamento de Língua Portuguesa (DLP), a UEM tem cinco docentes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), quatro deles são surdos. Marília Ignatus Nogueira é uma delas e atua há 15 anos. Para ela, “o maior desafio para os ouvintes é aprender Libras na prática, sem oralização, assim como os surdos, pois a língua de sinais é 20% teórica e 80% prática”.
A professora acredita que houve avanços em relação à inclusão no ensino superior, principalmente com novas pesquisas e tecnologias, mas destaca que a presença de profissionais capacitados para a Libras ainda é essencial. “O ideal seria que o ensino da língua de sinais fizesse parte de todos os cursos de graduação e pós-graduação, assim como já acontece em outros países”, declarou. A intérprete de Libras que participou da entrevista com Marília foi Rosinéia dos Santos Aragão Sanches.
Desde 2005, a legislação federal prevê a inclusão da Libras como disciplina obrigatória em cursos de formação de professores (licenciaturas e Pedagogia) e Fonoaudiologia. Para se tornar um intérprete, é necessário ter certificação, emitida por algumas associações. Geralmente, os profissionais têm especialização ou pós-graduação na área.
O coordenador do Propae, Fernando Mendonça, reforça a importância do Setembro Azul para a comunidade surda e os profissionais que a acompanham. “Acredito que ter um dia, um mês para marcar isso são formas de marcar presença, não deixar passar. É uma marcação de memória, de espaço ocupado, de reivindicação. Então eu acho extremamente importante”, afirmou.
Colégio Bilíngue
A UEM também abriga a Associação Norte Paranaense de Áudio Comunicação Infantil (Anpacin), mantenedora do Colégio Bilíngue para Surdos de Maringá. Localizada no bloco J-13, a instituição atende crianças a partir dos 4 anos, com turmas desde a educação infantil até o ensino médio.
Em 2025, aproximadamente 50 estudantes são atendidos pela equipe, que é proficiente em Libras. Neste mês, o colégio está promovendo diversas ações para celebrar o Setembro Azul e incentivar cada vez mais a inclusão. O principal objetivo da Anpacin é garantir a efetivação dos direitos de crianças e adolescentes surdos ou com outras deficiências auditivas associadas.
Datas comemorativas - Setembro Azul ou Setembro Surdo
-
21 de setembro – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência
-
23 de setembro – Dia Internacional das Línguas de Sinais
-
26 de setembro – Dia Nacional do Surdo
-
30 de setembro – Dia Internacional do Profissional Tradutor e Intérprete
(Mônica Chagas/Comunicação UEM)