As plantas aquáticas invasoras estão entre as principais ameaças silenciosas aos ecossistemas de água doce. De aparência inofensiva, elas se espalham com rapidez, formam tapetes densos sobre rios, lagos e lagoas, bloqueiam a luz solar, reduzem o oxigênio e sufocam espécies nativas. O resultado é um desequilíbrio ecológico que afeta não apenas a biodiversidade, mas também atividades humanas como a pesca, o turismo e o abastecimento de água.
A Universidade Estadual de Maringá (UEM) participa de duas pesquisas internacionais voltadas à compreensão e ao controle das espécies exóticas invasoras. Financiadas pela Comissão Europeia, as iniciativas unem instituições da Itália, Canadá, Portugal, Áustria, Bélgica, Croácia, Romênia e do Brasil, em uma parceria estratégica em estudos ambientais de alcance global.
O primeiro projeto, “Prevendo a diversidade funcional de plantas aquáticas exóticas invasoras”, tem como meta entender como essas plantas se adaptam a diferentes ambientes e prever seu potencial de dispersão. A proposta é supervisionada pelo professor Rossano Bolpagni, da Università degli Studi di Parma (Itália), em parceria com Lars Iversen, da McGill University (Canadá), e com os professores Sidinei Magela Thomaz e Roger Paulo Mormul, do Departamento de Biologia da UEM.
A pesquisa, desenvolvida pela doutoranda Alice Dalla Vecchia, inclui trabalhos de campo e experimentos laboratoriais realizados na Itália, no Canadá e no Brasil. Em outubro, Alice chegou ao país acompanhada por três integrantes de sua equipe — Giulia Rossi, graduanda; Sara Bianchi, mestranda; e Alessandro Cicciarella, doutorando da Universidade de Parma — para iniciar a etapa brasileira do estudo.
As atividades no Brasil contam com o apoio do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia) e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), ambos da UEM. Parte dos experimentos será realizada na base do Nupélia, em Porto Rico (PR), e em reservatórios de hidrelétricas, com a colaboração da bióloga Aline Rosado e do técnico Valmir Alves Teixeira.
Segundo Roger Paulo Mormul, as plantas invasoras representam uma ameaça crescente. “Elas entopem os cursos d’água, expulsam espécies nativas e comprometem a integridade desses ecossistemas. Isso afeta diretamente os serviços que a água doce nos oferece, como o lazer, a pesca e o consumo humano”, explica.
Com duração de três anos, o projeto adota ainda uma vertente de Ciência Cidadã, que estimula a participação da comunidade no monitoramento das espécies. “As descobertas não ficarão restritas aos laboratórios. Pretendemos desenvolver ferramentas de alerta precoce que auxiliem na tomada de decisões e na implementação de medidas preventivas eficazes”, complementa Mormul.
Além do estudo sobre plantas aquáticas, a UEM é a única instituição brasileira integrante do consórcio internacional BUILDERS – Building Resilience Through Citizen Science-Driven Approaches to Invasive Species, ou “Construindo Resiliência Através de Abordagens Impulsionadas pela Ciência Cidadã para Espécies Invasoras”.
O projeto reúne sete parceiros acadêmicos e quatro não acadêmicos, com sede na Universidade de Parma e participação de países como Itália, Portugal, Áustria, Bélgica, Croácia, Romênia e Brasil. Financiado pelo programa Marie Skłodowska-Curie Actions (MSCA), dentro do Horizon Europe, o BUILDERS dispõe de um investimento de € 716.430,00 (aproximadamente R$ 4,5 milhões).
“O projeto tem a ambição de transformar a maneira como lidamos com as espécies invasoras, superando barreiras de conhecimento que dificultam seu controle”, destaca Mormul, coordenador da iniciativa no Brasil.
Embora a UEM não receba recursos financeiros diretos, o investimento será utilizado em intercâmbios científicos. Nos próximos quatro anos, cerca de 20 pesquisadores europeus virão à instituição para desenvolver atividades no Nupélia e no PEA, fortalecendo o intercâmbio de ideias e a formação de jovens cientistas.
O BUILDERS combina três eixos centrais: Ciência Cidadã, para incentivar o envolvimento da sociedade no monitoramento ambiental; Comportamento Animal, que investiga como espécies invasoras se movem e interagem com novos ecossistemas; Monitoramento Biológico, voltado ao acompanhamento contínuo dos efeitos das invasões sobre os habitats naturais.
Coordenado pela professora Cristina Castracani, da Universidade de Parma, e com início previsto para 1º de novembro, o projeto seguirá até outubro de 2029, ampliando a rede global de cooperação científica em defesa da biodiversidade.
Os resultados dessas pesquisas podem orientar políticas públicas, planos de manejo e estratégias internacionais de prevenção, além de promover novas formas de cooperação entre cientistas e comunidades locais. Ao unir tecnologia, observação ecológica e participação cidadã, essas iniciativas criam as bases para uma gestão global mais inteligente e sustentável dos ecossistemas aquáticos.
(Adriana Cardoso/Comunicação UEM)